Chico Science

sábado, 20 de novembro de 2010

Chico Science



A história de Chico Science começa no início dos anos 80, nos arredores da 2ª Etapa de Rio Doce, bairro da periferia de Olinda. Naquela época, o garoto Francisco França ganhava uns trocados durante o dia fazendo "biscates" na vizinhança, para garantir a entrada nos bailes funkies dos finais de semana. Seus ídolos eram James Brown, Sugar Hill Gang, Kurtis Blown, Grand Master Flash e outros grandes nomes da Black Music.

Chico passou a integrar a Legião Hip Hop, uma das principais gangues de dança das ruas do Grande Recife, no ano de 84. Três anos mais tarde surgiu sua primeira experiência como músico: a banda Orla Orbe, que durou pouco mais de um ano. Apesar das coisas não terem dado certo, Chico não desanimou. E o final da década viu o nascimento do Loustal, um grupo cujo nome homenageava o famoso quadrinista francês Jacques de Loustal.

A idéia era trabalhar o rock dos anos 60, incorporando elementos de soul, funk e hip hop. A essa altura, Francisco França já começava a se transformar em Chico Science, o cientista dos ritmos, o rei das alquimias sonoras.



A guinada decisiva aconteceu no início de 91, quando, através de Gilmar "Bola Oito", um colega de trabalho, ele entrou em contato com o bloco afro Lamento Negro, de Peixinhos, um outro subúrbio de Olinda. O bloco era especializado em samba-reggae, e desenvolvia um trabalho de educação popular junto com o Centro de Apoio a Comunidade Carente "Daruê Malungo". Impressionado com a energia do grupo, Science resolveu experimentar a potencialidade dos percussionistas, mixando os ritmos regionais com sua bagagem de black music. Para incrementar a nova fórmula, ele convocou dois companheiros do Loustal: o guitarrista Lúcio e o baixista Alexandre. Estava formado o Nação Zumbi.
Essa versão pernambucana da "World Music" foi batizada de Mangue.

A estréia oficial aconteceu no Espaço Oasis, em Olinda, no dia 01 de junho de 91. Nessa mesma data, Chico resumiu para um grande jornal do Recife o que estava por trás do seu novo projeto: "É nossa responsabilidade resgatar os ritmos da região e incrementá-los junto com uma visão pop. Eu vou além."

Quem achou a declaração pretenciosa, quebrou a cara. Afinal, uma ano depois, o Mangue, já transformado em movimento, reunia várias bandas em regime de cooperativa e era a grande novidade da mídia local. Em junho de 93, Chico Science e o Nação Zumbi fizeram uma excursão relâmpago por São Paulo e Belo Horizonte, detonando três shows que deixaram o público e a crítica de queixo caído. Em pouco tempo, a batida desses caranguejos com cérebro já se fazia ouvir por todo país.


Orla Orbe foi a primeira banda de Chico Science, criada em 1987. Acima o cartaz, feito à mão e com foto xerocada, do primeiro show do grupo, em Recife.


Da MTV aos cadernos de cultura dos grandes jornais de São Paulo, passando por revistas especializadas e um programa especial na Globo Nordeste, todo mundo abriu um espaço para a Mangue Beat de Chico Science e Nação Zumbi.

Da Lama ao Caos, produzido por Liminha e gravado no estúdio Nas Nuvens, é o primeiro registro de sua incrível mistura de maracatu, samba de roda, caboclinho, funk, soul, guitarras pesadas e psicodelia. Fiquem ligados: a invasão dos homens-caranguejo continuam com a Nação Zumbi !

12/11 - Primeiras Idéias

segunda-feira, 15 de novembro de 2010


Nossa idéia é misturar justamente essa coisa de tecnologia, com o mangue, com essa coisa regional, esta aqui algumas inspiraçoe de trabalhos pesquisados
e a nossa primeira idéia :D


PESQUISA:











PRIMEIRAS IDÉIAS:

'Da lama ao caos', de Chico Science & Nação Zumbi, completa 15 anos com a marca da revolução

quinta-feira, 28 de outubro de 2010



Modernizar o passado". Sobre uma guitarra que martelava hipnoticamente a mesma nota, em timbre distorcido, e um batuque grave e vigoroso, a voz de Chico Science abria com esse verso o disco "Da lama ao caos", em 1994. Quem ouviu entendeu que não era discurso vazio. O primeiro álbum de Chico Science & Nação Zumbi modernizava o passado e - sabe-se agora, quando o CD completa 15 anos - anunciava o futuro, com a metáfora da lama do mangue como matéria-prima da invenção. Se os fundadores da MPB dos festivais tiveram como iluminação o "Chega de saudade", de 1959, os jovens do distante (pré-internet) início da década de 1990 viram no disco de estreia dos pernambucanos o marco de sua geração.

- O CD bateu como a revolução que todos esperávamos e não sabíamos - define o produtor Kassin. - Influenciou todos da minha geração diretamente. Os anos 90 se dividem entre antes e depois deles.

O guitarrista Pedro Sá expressa outra sensação que circulou entre seus pares na época.

- Me senti representado ali.

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A fala de Sá traz embutida uma questão latente no início dos anos 90: o rock brasileiro da década anterior já não representava aquela geração.

- O rock brasileiro dos anos 80, de uma forma geral, virou as costas para o Brasil - avalia Lúcio Maia, guitarrista da Nação Zumbi. - A onda era imitar bandas inglesas e americanas. "Da lama ao caos" é uma ode à música brasileira, a proposta de uma nova forma de tocar coco, maracatu, ciranda, samba.

Ouça a faixa-título de "Da lama ao caos":


A fusão da música pop (no caso, hip hop, soul, punk rock, dub...) com gêneros tradicionais brasileiros - por outras vias, "uma retomada de coisas que os tropicalistas já tinham proposto", acredita Maia - explica em grande parte o impacto de "Da lama ao caos".

- Foi uma espécie de ovo de Colombo - interpreta o crítico Arthur Dapieve. - Muitas bandas de rock das décadas anteriores (sobretudo Mutantes, Paralamas e Titãs, mas até Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii) tinham feito tentativas mais ou menos bem-sucedidas de eliminar as contradições, ou supostas contradições, entre rock e música popular brasileira. Mas foi o Chico Science quem botou o ovo em pé.

Os reflexos do disco atingiram esferas insuspeitas da cultura nacional. O escritor Ariano Suassuna, opositor ferrenho a qualquer flerte das tradições pernambucanas com a música pop, chorou no enterro de Chico Science (morto num acidente automobilístico em 1997), de quem se declarava admirador, apesar das restrições a "seu lado Science", como dizia. Versos de "A cidade", canção de "Da lama ao caos", foram citadas num sucesso de axé music ("Xibom bombom", do grupo As Meninas). Na Cidade de Deus, o rapper MV Bill ouviu com atenção o disco, que define como "o surgimento do rock com sotaque brasileiro".

João Barone, baterista dos Paralamas (e quem deu o primeiro par de baquetas profissionais a Canhoto, então percussionista da Nação Zumbi, numa visita ao estúdio onde a banda gravava "Da lama ao caos"), nota que, para além da fusão pop-regionalismo, havia "muitas outras coisas nas entrelinhas" do CD. O compositor Silvério Pessoa ilumina algumas das entrelinhas:

- O CD traz a fala de Chico sobre a teoria da física moderna, a Teoria do Caos, ficção científica, quadrinhos, moda, cinema, em resumo, uma nova estética oferecida para uma nova geracão saturada dos "rocks". "Da lama ao caos" foi a chave certa para que a música independente perdesse o medo de enfrentar as estruturas do mercado. Mesmo vinculado a uma gravadora (Sony), foi um trabalho plenamente autoral.


As ideias que circulavam pela cabeça de Science e companhia ganharam tradução visual no encarte do CD pelas mãos de DJ Dolores. Um dos articuladores do movimento mangue bit (do qual despontou também o mundo livre s/a), ele assinou o projeto gráfico do disco.

- Havia um enorme fascínio por tecnologia, e isso é bem presente no material gráfico - lembra Dolores, que fez tudo num "computador bem ruinzinho". - Fazer música com máquinas significava para nós, naquela época, um diálogo de igual para igual com o resto do mundo.

MANGUE, o conceito

Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.
Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

Exposição com capas do Manguebeat

Discografia básica do design: os anos 90 pernambucano

Exposição reúne capas de discos da cena pernambucana.




Peças que compõem a exposição “Discografia básica do design: os anos 90 pernambucano”:
1 – Da Lama ao Caos (CSNZ / 1994)
2 – Afrociberdelia (CSNZ / 1996)
3 – Samba Esquema Noise (MLSA / 1995)
4 – Guentando a Ôia (MLSA / 1996)
5 – Mestre Ambrósio (Mestre Ambrósio / 1996)
6 – Fuá na Casa de Cabral (Mestre Ambrósio / 1998)
7 – Olho de peixe (Lenine / 1993)
8 – O Dia em que Faremos Contato (Lenine / 1997)
9 – Faces do Subúrbio (Faces do subúrbio / 1997)
10 – Agora tá valendo (Devotos / 1997).
11 – Sonic Mambo (Eddie / 1999)
12 – Fome dá dor de cabeça (Cascabulho / 1998)
13 – Som de Caráter Urbano e de Salão (Sheik Tosado / 1999)
14 – Samba pra Burro (Otto / 1998)
15 – Baile Perfumado (filme Baile perfumado / 1997)
16 – Você Não Sabe da Missa um Terço (Querosene Jacaré / 1998)
17 – Lia de Itamaracá (Lia de Itamaracá / 1999)
18 – Songo (Songo / 1998)
19 – Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis (Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis / 1994)
20 – REIginaldo Rossi – Um Tributo (coletânea / 1998)

As outras 10 peças são fitas K7 de bandas pernambucanas que passaram pelo Abril Pro Rock nas edições da década de 90. Entre elas, Lara Hanouska, Paulo Francis Vai Pro Céu e Devotos.

MANGUE, a cena




Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.

Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um “cirCUito eNergéTIco”, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.
Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.

Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.

MANGUETOWN, a cidade

A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex)cidade “maurícia” passou desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.
Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de “progresso”, que elevou a cidade ao posto de “metrópole” do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.
Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da “metrópole” só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e CaOs urbano.